ANAPROMED-GB: Realidade dos trabalhadores domésticos guineenses ganha espaço a nível internacional

Por: Laércia Valeriana Insali
A situação dos trabalhadores domésticos na Guiné-Bissau ganhou um novo espaço internacional, com a integração da Associação Nacional de Proteção dos Trabalhadores Domésticos (ANAPROMED-GB) na Federação Internacional dos Trabalhadores Domésticos. O presidente da organização nacional analisa à CAP-GB a realidade vivida por estes profissionais.
Os desafios e direitos da classe de trabalhadores domésticos têm agora um outro nível de representação. Depois da recente conferência no Ruanda, a associação passará a ter acesso a oportunidades de financiamento e formação profissional.
Em entrevista à CAP GB, esta sexta-feira (01/09), o presidente da ANAPROMED-GB, Sene Bacai Cassama, recorda os inúmeros problemas enfrentados pelos trabalhadores e a razão pela qual criou a instituição que lidera.
“A minha irmã, que foi empregada doméstica, sofreu violência por parte da patroa e na tentativa de ajudá-la procurei saber se existia um departamento ou associação que trabalhava para a proteção dos trabalhadores domésticos. Como não havia, surgiu a ideia da criação de uma organização que defende os trabalhadores domésticos, fundada no dia 27 de Dezembro de 2014 com alguns colegas”, explica.
A meta estabelecida para 2023 passa pela melhoria das condições de trabalho e cumprimento das leis, por parte dos empregadores. O combate ao trabalho infantil é outro objectivo.
De acordo com o seu presidente, a ANAPROMED-GB conta com 20.018 membros, em todo território nacional. 75% de género feminino e 25% do género masculino. Apesar de nunca ter recebido qualquer financiamento, Sene Bacai Cassama não tem dúvidas de que o trabalho já realizado tem tido grande impacto na vida dos trabalhadores domésticos.
“Conseguimos acompanhar de perto a situação dos nossos associados, e vimos que, de alguma forma, a intervenção da associação na resolução dos problemas vem mudando o comportamento dos patrões, permitindo que trabalham de maneira segura e sem ser vítima de qualquer tipo de violência”, finaliza.
Testemunhos
Bidamatcha Alberto Crima é segurança e explica que as dificuldades que enfrentam são enormes principalmente na época das chuvas, porque têm de cumprir o seu serviço, mesmo quando chove. Para si, o mais difícil é no próprio local de trabalho, onde, mesmo doentes, têm de continuar em funções, porque os patrões acham que só estão “a inventar para tirar folga”.
Bidamactcha não faz parte da Associação Nacional de Proteção dos Trabalhadores Domésticos (ANAPROMED-GB), mas já dedica quatro anos à profissão.
“Eu na verdade ainda não aderi à associação e nunca testemunhei de perto alguma ação da mesma, mas uma vez tive a oportunidade de participar numa reunião. Estou neste trabalha já há 04 anos”, explica.
Para Manali Lima Ombasse, empregada de limpeza, o seu trabalho tem muitas dificuldades e poucos ganhos, que nem sempre permitem satisfazer as necessidades básicas.
Ao contrário de Bidamactcha, Manali conhece bem o trabalho da ANAPROMED-GB. Destaca que os direitos dos trabalhadores domésticos não são respeitados, mas considera que a associação faz de tudo para a sua defesa.
“Sofremos muitas humilhações mas temos esperança que um dia as nossas vidas podem mudar eu acredito que não vou continuar nesse trabalho para toda a vida“, lamenta.
Veja o vídeo com excertos da entrevista do presidente da ANAPROMED-GB.