TÁXI MEU PREFERIDO: uma viagem em que sempre sei quando e onde começa, mas nem sempre, onde e a que horas termina

NOTAS SOLTAS: MARCELO MARQUES

Andar de táxi em Bissau é uma viagem em que sempre sei quando e onde começa, mas nem sempre, onde e a que horas termina.

É nessa sensação de aventura que embarco com imenso prazer, sempre que preciso de me deslocar para a cidade ou mais propriamente para a Praça, como é conhecida toda a área da cidade colonial, onde prolifera em grande parte, a vida comercial, empresarial, política e social do país e da sua capital.

Calculo que 90% do tráfego automóvel da capital seja formado por transportes públicos, táxis, e os mais populares toca-toca.
Resistem ainda uma meia dúzia de velhinhos e muito cansados autocarros, que expulsos pelas exigências de segurança europeia vêm mostrar à evidência que ainda estão para as curvas (e para os muitos buracos), beneficiando de circularem numa interminável mas agradável avenida com quase doze quilómetros que liga a entrada na península de Bissau, o Aeroporto Osvaldo Vieira, até à Chapa, onde invertem o sentido.

Na linha dos transportes públicos do país falta ainda referir os set-place, carrinhas de sete lugares, que nos transportam quase sempre entalados e enlatados como sardinha, num percurso inter- cidades, que entre conversas, saltos, apertões, e boa disposição nos vão mostrando as riquezas desta terra.

A primeira lição para quem procura um táxi pela primeira vez em Bissau, é não esperar por um táxi só com o condutor. Aqui, o táxi é um transporte público, com a diferença de não ter uma rota definida, mas sim de acordo com a necessidade do cliente, ou clientes.

Voltando aos velhinhos Mercedes 190, alguns com reformas muito acima da média europeia, e que à anos deviam repousar numa qualquer linha de reciclagem, vão conseguindo diariamente cumprir a sua missão de alimentar a família que o conduz e transportar e alimentar de sonhos e aventuras quem neles se aventura a circular.

É nestas excitantes viagens do Bairro da Ajuda para o centro da cidade (Praça), no pára arranca constante até passar a Chapa de Bissau, que vou ouvindo histórias alegres, outras nem tanto, novidades sobre a situação política e social, aprendendo um pouco mais de crioulo, saindo e reentrando conforme o fluxo de entrada e saída de clientes, segurando a porta para ela não saltar, pedindo o puxador para abrir o vidro.

De vez em quando alguém aparece a carregar um porco ou uma cabra na bagageira, muitas vezes pedindo ajuda a um passageiro, para carregar o animal desabituado destas andanças. As galinhas, essas viajam connosco quase sempre conversadoras, sem entenderam com certeza as nossas razões ou discussões.

O Táxi de Bissau retrata de uma forma simplista aquele ambiente de viagem em família que fazia quando há muitos anos na aldeia, no único carro que fazia o transporte colectivo para a vila mais próxima, para os mercados, para a escola, para uma visita ao médico, ao tribunal, etc.

E algumas são as vezes, em que a reforma à muito pedida e recusada, os obriga a parar, as desculpas simpáticas do condutor, a explicação técnica que um simples olhar deixa claro, e lá vou eu de novo para a rua à procura de um outro velhinho 190 que me transporte de novo a uma pequena mas quase sempre agradável aventura, sabendo sempre a que horas saio, mas sem nunca poder prever a que horas chego ao meu destino!

Marcelo Marques

Autor: CAP-GB

                               

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